Negro e pobre, Paulinho sofria com o preconceito de outro garoto que o molestava toda vez que ele se dirigia à escola.
– E aí, neguinho? – perguntou Bruno – Ta pensando que vai pra onde?
– Meu nome é Paulo e não está vendo que estou indo à escola?
– Olha só o rapazinho é atrevido! – comentou Bruno aos seus dois amigos que o acompanhavam - Tem medo de morrer não muleque?
– Por favor, me deixa ir embora.
– Não antes de eu te dar um cascudo.
– Ai! ai! ai!...
Paulinho continuou sua caminhada segurando o choro e passando a mão por sua cabeça enquanto os outros meninos riam sem parar.
– Ainda mato esse cara! – comenta consigo mesmo.
Paulinho não entendia porque aqueles garotos não gostavam dele apenas por ser negro, pois a maioria de seus amigos era de cor branca e nunca haviam manifestado nenhum tipo de ato discriminatório. Com muita raiva ele repetia o tempo todo:
– Eu mato aquele cara, eu mato!
O melhor amigo de Paulinho era André, um menino branco de olhos azuis que morava do outro lado da cidade. Percebendo sua angústia ao chegar à escola André perguntou:
– O que houve?
– Nada!
– Como nada, ta aí todo cabisbaixo? Fala comigo!
– Ta bem! Tem uns meninos aí que vem me batendo e me humilhando todo dia no caminho pra escola.
– Como assim? Por quê?
– Eles me chamam de neguinho, deve ser porque sou negro.
– Não leve isso tão a sério, assim como tem gente boa, também tem babacas brancos, negros, verdes, amarelos... Muda seu caminho pra vir à escola.
Paulinho esboçou um sorriso e achou interessante a sugestão de seu amigo.
No outro dia mudou seu caminho como sugeriu o André. De nada adiantou, lá estava o trio, pareciam ter adivinhado a estratégia de sua vítima.
– Neguinho, neguinho... Pensou que iria nos enganar, é? Vem cá!
Sabendo que iria apanhar novamente Paulinho resolveu enfrentá-los. Olhou em volta e viu um caco de vidro perto do seu pé e o pegou apontado-o para o seu algoz.
– Vai me enfrentar neguinho?
Bruno avançou pra cima de Paulinho e os dois rolaram pelo chão por alguns segundos até se ouvir um grito. Bruno foi atingido e sangrava muito. Uma ambulância foi chamada, mas foi inútil. Bruno morreu. Paulinho foi enviado a um reformatório.