quinta-feira, 19 de maio de 2011

Conto XVII

Era uma vez...



Mesmo sabendo da inexistência dos contos de fadas ela acreditava que um dia um príncipe num cavalo branco a libertaria de seu cárcere e assim viveriam felizes para sempre. Jane era uma sonhadora que viajava em seu romantismo. Dentro de seu mundo encantado fantasiava um homem perfeito que transformasse os seus sonhos em realidade.

Como qualquer princesa do imaginário popular ela também tinha um pai que a protegia de todos os males. Pelo menos isso era o que ele pensava quando a proibia de sair ou de conversar com amigos. Acostumada com essa privação passou a se recolher no seu íntimo transformando seu quarto numa espécie de bolha de proteção. Nada fazia sem uma prévia autorização paterna. Quando ousava algo inusitado ao seu dia a dia mergulhava num remorso e acabava arrependendo-se de sua aventura.

Insegurança e timidez talvez fossem os seus piores defeitos. Pelo menos eram aqueles que mais a prejudicavam.

Estar em sua companhia era privilégio para poucos e eu, é claro, era um desses. Éramos amigos desde criança e não nos separava-mos.

Um dia começamos a conversar sobre assuntos relacionados à amizade, namoro, casamento. Coisas do gênero. Num certo momento, intrigado com sua mania de conversar com os olhos voltados para o chão, perguntei-lhe:

— Porque você não me olha nos olhos?

— Não sei — ela me respondeu, ainda cabisbaixa.

Não me contive e com um leve toque em seu queixo a fiz erguer a cabeça.

— Você é linda!— disse-lhe — uma garota tão linda não tem o direito de se esconder.

O rubor tomou conta de sua face. Faltaram-lhe palavras diante do que eu havia dito.

— Não quis constrangê-la, perdoe-me!

— Tudo bem, apenas não é comum eu receber elogios. Sou tão sem graça.


Ao ouvir o que chegou a me parecer uma heresia dei-lhe um beijo e, imediatamente, fui correspondido com uma bofetada.

— Porque você fez isso? — indagou-me assustada.

Não tinha resposta a sua pergunta e saí correndo sem olhar para trás. Estava em dúvida dos meus sentimentos sobre ela. Nem eu sabia por que fizera aquilo. Fui tomado por um impulso incontrolável.

Após esse episódio longos meses se passaram. Nunca havia ficado tanto tempo longe de minha amiga. Éramos como unha e carne, como diziam. Hoje, enfim, recebi notícias. Um bilhete.
“Meu querido amigo, até hoje sonho com aquele beijo. Fico com vergonha só de imaginar. No dia fiquei muito chateada, pois eu não esperava. Quanto ao tabefe que te dei quero pedir desculpas. Lamento muito! Quem sabe um dia a gente possa rir de tudo isso”.
Ela assinou o bilhete como, a minha amiga querida. Confesso ter imaginado que depois daquele dia passaríamos a ser mais que amigos, no entanto é assim que ela me vê. E eu que pensei em ser aquele príncipe encantado. Imagina! Nem andar a cavalo eu sei.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Conto XVI

Sujeira.

Josias era um gari. Seu trabalho era elogiado por todos. Ele gostava de fazer um serviço com capricho e achava que todos deveriam se comportar da mesma maneira. Quando era escalado para varrer uma rua o fazia de maneira impecável. Fazia de tudo para que nada passasse despercebido por sua vassoura.

Ao contrario dele, depois de alguns anos trabalhando juntos, seus colegas passaram a ter uma visão diferente das coisas. O trabalho não fluía mais como antigamente. Influenciados, ninguém sabe por quem, resolveram que ser muito meticuloso na limpeza seria desnecessário. Com isso começaram a suspender os seus afazeres quando lhes era conveniente e, ao limpar as ruas, suas vassouras só encontravam o lixo de maior porte. Pontas de cigarros e outros bagulhos de tamanhos semelhantes eram desconsiderados de maneira premeditada. Esses fatos sobrecarregavam quem fazia questão de cumprir com o seu dever. Como a fiscalização era omissa Josias resolveu questioná-los do por que desse comportamento e obteve a seguinte resposta:

— Lá vem você com seu preciosismo! Fica se apegando a coisas pequenas. O que importa é que o trabalho ta sendo feito e ninguém ta reclamando. Vai me dizer que você faz o trabalho perfeito?

Josias explica que não se trata de perfeição e que o erro faz parte da vida. Sendo assim, é inerente ao ser humano. Uma vez ou outra ele admite que possa vir a deixar uma ou outra ponta de cigarro na rua por não tê-la visto ou mesmo, algum dia, precise sair mais cedo para resolver problemas pessoais. O que ele acha condenável é poder fazer a coisa certa e se optar por não fazê-la por preguiça, falta de zelo ou por simples e burro oportunismo.

Josias ainda insiste dizendo que a busca pela excelência nos serviços deve ser a meta de qualquer trabalhador. Afirma que ninguém deve negligenciar suas atividades e que quando pensamos apenas em nossos interesses particulares podemos estar prejudicando alguém do lado.

— Tentem se colocar no lugar do outro! — aconselha.


terça-feira, 19 de abril de 2011

Até que a morte nos separe.

Falar da morte é complicado. Eu mesmo não gosto. No entanto não temos como fugir dela. Há quem acredite que estamos aqui na Terra de passagem e que a vida eterna nos espera após morrermos. Isso soa meio incoerente, mas trata-se de fé. Existem, também, os adeptos da reencarnação e assim voltaríamos por meio de outros corpos a reviver aqui neste planeta. Toda crença de vida após a morte pode trazer certo conforto, visto que a idéia de falecer causa horror à maioria das pessoas. Inclusive a mim, confesso!

Apesar de não apreciar o assunto, volta e meia esse tipo de pensamento vem à minha cabeça e quando isso acontece tento imaginar a morte como se fosse um sono profundo. Um sono sem sonhos, sem consciência.

A despeito do não ter o que fazer para impedir tão malfadado acontecimento nós continuamos a viver mesmo com dúvidas sobre nossa existência e o porquê deixamos de existir muitas vezes de maneira precoce. Esse é outro fato que nos intriga. Porque pessoas boas morrem muito cedo enquanto verdadeiras bestas humanas permanecem vivas praticando o mal? Mesmo considerando os fatos naturais ou acidentais, os exemplos são inúmeros do quanto somos vítimas de nós mesmos. Vulneráveis a uma violência que parece sair do controle. As tragédias se sucedem e mostram como a vida pode ser extinta de maneira súbita e incompreensível.

Então, vamos viver intensamente, apaixonadamente. Quem sabe assim os bons possam influenciar os maus e a vida siga seu curso, seu ritmo, naturalmente. Até que a morte nos separe.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Brasil

Dizem que o Brasil passou a ser a sétima maior economia do mundo. Realmente desde o início da era Lula, ou até mesmo antes disso, desde a implantação do Plano Real que a coisas vêm melhorando em nosso país, no que diz respeito aos fatores econômicos. Mas quais os aspectos que nos levaram a esse patamar? Porque que esse crescimento não se reflete na educação e na saúde, por exemplo?

Ainda convivemos com escolas abandonadas onde os alunos sequer têm onde sentar, professores sem a devida valorização etc. Na saúde não é raro ouvir sobre mortes de pacientes após permanecerem horas em filas ou sobre aparelhos, imprescindíveis para realização de exames, virando sucata sem a devida manutenção.

Nota-se a falta de prioridade para assuntos tão importantes. A riqueza que elevou o grau financeiro do país parece seguir outros caminhos.

Como exemplo de prioridades, podemos citar estádios que serão construídos ou reformados para a realização da Copa do Mundo de futebol em 2014. O dinheiro público financiará quase a totalidade das despesas. Serão bilhões de reais. Não se discute os benefícios e benfeitorias que devem ocorrer nas cidades brasileiras ao realizar esse evento. Isso será muito bom. O que há de se questionar é como os recursos podem ser tão escassos para coisas fundamentais e tão abundantes para outras de importância relativa.

Viva o povo brasileiro! Gente pacata que adora samba e futebol. População ordeira que não reclama. Pior! Acha que aqueles que reclamam, reivindicam ou criticam as mazelas e absurdos da má gestão do dinheiro público são uns chatos.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Ronaldo

Apesar de achar que, no Brasil, dão uma importância exagerada ao futebol, eu também sou torcedor e não posso deixar de lamentar a aposentadoria do atacante Ronaldo “fenômeno”.
Dono de uma habilidade extraordinária ao longo de sua carreira, foi artilheiro em todo clube que passou, inclusive fazendo cinco gols em uma única partida – o que eu lamentei muito, obviamente – pois foi em cima do Bahia quando o craque jogava pelo Cruzeiro.
Depois de muito brilho Ronaldo vinha sofrendo muitas críticas pelo seu excesso de peso, até mesmo pela torcida do Corinthians, seu último clube. Mas chegou a fazer belas partidas mesmo não sendo aquele de outrora. O tempo passa para todos e com ele não seria diferente. Resta-nos agradecê-lo por ele nos ter proporcionado grandes espetáculos com suas belas jogadas. Obrigado, Ronaldo!

Devaneios de Lucidez

Às vezes fico parado, pensando em tudo e nada, ao mesmo tempo. Quem determina o que é certo e o que é errado? Acho que depende da conveniência de cada um. As injustiças se multiplicam. A inversão de valores toma conta da sociedade como um câncer demonstrando toda sua agressividade. O ter em detrimento do ser. Podem me chamar de louco, mas quem não é? Quem é, verdadeiramente, lúcido? Poderíamos dizer que o mundo está fora do eixo ou será que sempre esteve e a gente é que não se deu conta?

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Permissividade

Nenhum grupo organizado seja ele empresa privada ou alguma instituição do setor público pode viver sem regras e sem limites. O individual não deve vir antes do coletivo. È inconcebível que uma organização tenha que se adequar aos interesses ou necessidades de seus colaboradores. É justamente o contrário. O funcionário é que tem de se ajustar às regras e normas de seu ambiente de trabalho, salvo poucas exceções, a exemplo de pessoas com necessidades especiais, mesmo que esse trabalho seja voluntário.

Há pessoas que se acostumam, quando questionadas por erros cometidos no processo técnico ou na sua conduta profissional, a tentar minimizar ou justificar com explicações subjetivas. Aliam-se a outros que cometem os mesmos erros com o intuito de convencer a quem quer que seja que seus atos não são dignos de repreensão ou maior observação por parte da cúpula administrativa. Quando conseguem persuadir seus interlocutores ficam à vontade e é aí que mora o perigo. Mesmo que, em sua maioria, não sejam erros graves, com a continuidade e a inobservância por quem de direito, uma mensagem é enviada ao cérebro afirmando que tudo pode ser feito e nenhuma punição irá ocorrer. Quais as consequencias disso? Os problemas que antes poderiam ser considerados como pequenos podem tomar proporções absurdas. Com o decorrer do tempo eles passam a ser avaliados como normais e outros erros maiores aparecerão fazendo com que todo o processo saia do controle. Isso pode acontecer devido ao nível de tolerância que vai aumentando, transformando-se em permissividade.

A permissividade é danosa para qualquer instituição.

Quando um indivíduo joga um papel no meio da rua, pode parecer que é um problema pequeno. Mas quando outras pessoas passam a fazer o mesmo, a coisa se multiplica e aí surgem as conseqüências que podem ser bem desagradáveis, a exemplo das enchentes.

O raciocínio é o mesmo dentro das corporações de trabalho. Há de se reivindicar direitos e não privilégios ou tratamentos diferenciados, a não ser em casos excepcionais como foi citado anteriormente.

Não se trata de rigor excessivo, engessamento ou qualquer coisa que o valha, e sim de equilíbrio.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Moinhos de Vento

Era uma vez uma comunidade que para ter energia nas suas casas resolveu construir certa quantidade de moinhos de vento. Mas não eram moinhos comuns, eles tinham vida.

 Para que a energia fosse bem captada os moinhos deveriam girar suas hélices sempre no mesmo sentido, velocidade e espaço de tempo. Caso contrário poderia haver apagões ou até mesmo queima de eletrodomésticos.

Durante algum tempo o número de moinhos era suficiente, mas devido ao crescimento da comunidade e a idade avançada de alguns deles outros tantos tiveram que ser construídos. A empolgação dos novatos era grande. Tinham muita vitalidade, giravam incessantemente suas hélices em busca de uma energia eficiente. Os mais velhos eram muito experientes, mas os jovens trouxeram um novo ânimo e novas idéias. Todos imbuídos pelo bem comum e com uma visão no sentido do trabalho coletivo de qualidade, respeito aos colegas, ética e honestidade nos seus atos e fazendo de tudo para melhor servir àquela comunidade. No entanto, tudo isso demorou pouco.

Logo no início não havia moinhos transitórios. Todos que lá existiam eram fixados nas terras verdes onde aquele grupo de pessoas vivia. È bem verdade que na geração antiga já havia moinhos que não funcionavam muito bem. Eram preguiçosos, incompetentes. Suas hélices quando não estavam paradas giravam muito lentamente e às vezes em sentido contrário o que era muito ruim para o bom desempenho dos trabalhos.

Com a chegada dos provisórios ficou ainda pior. Eram moinhos sem o menor comprometimento. Não ligavam se haveria energia suficiente para iluminar as residências. Entretanto o pior não demorou a acontecer. Muitos daqueles moinhos, que eram denominados de novatos, se deixaram contaminar pela banda podre dos mais antigos e pelos espertalhões que ali não eram fixados. Passaram a girar suas hélices de forma cadenciada, mesmo estando localizados onde os ventos sopram com mais força, tentando passar a responsabilidade para os outros que já faziam sua parte e ainda captavam a mesma energia de quando foram erguidos.

Os líderes da comunidade eram informados da situação, mas não davam a devida manutenção nos moinhos defeituosos. Os moinhos que se sentiam prejudicados gritavam, esperneavam, mas aqueles que estavam com defeito fizeram um pacto e com um discurso muito persuasivo convenciam os líderes que a velocidade das suas hélices estava na medida certa e que uma queda de energia ou outra era perfeitamente normal.

A Comunidade vai sobrevivendo na iminência de um colapso de energia, pois os moinhos mais inquietos com a situação são ignorados quando afirmam que algum parafuso tem que ser apertado ou quando denunciam que há alguma parte enferrujada impedindo o bom funcionamento de algum moinho mais descuidado.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Blog do Gilvan Torquato: Conto IV

Blog do Gilvan Torquato: Conto IV: "Trapalhadas de Um Pato! Uma fazenda no norte do Piauí era repleta de animais. Tinha galos, galinhas, perus, coelhos, patos e um lindo pav..."

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Blog do Gilvan Torquato: Conto XV

Blog do Gilvan Torquato: Conto XV: "O Lobo Dono de um pelo preto e cinza, olhos claros e reluzentes à noite, dentes afiados e garras poderosas o lobo da montanha era temido p..."

Círculo Vicioso

O círculo vicioso alimentado, de parte à parte, entre políticos e eleitores, destrói qualquer possibilidade de mudanças significativas no at...