quarta-feira, 17 de março de 2010

Conto IX

TUDO COMO DANTES...

Numa ilha muito distante, bem no meio do Pacífico, existia um reino. O Reino dos Acomodados. Tudo ia bem até que um belo dia um grave problema abalou as estruturas do reinado. Foi o maior alvoroço. Todos comentavam o desfalque ocorrido. A Rainha teria desviado uma boa quantia em dinheiro que era destinado ao pagamento de fornecedores.

– Isso é caso de polícia! – indagou um dos membros da população – Temos que recorrer à polícia, além das medidas internas de averiguação e punição.

Houve quem discordasse, quem achasse que não era para tanto.

– Coitada! – disseram – Ela tava devendo a agiotas e precisou pegar o dinheiro, mas vai devolver.

– Coitada? Foi isso mesmo que eu ouvi? – gritou, a mesma pessoa que havia sugerido a intervenção policial, indignado – Eu sempre solicitei a prestação de contas e só ouvia desculpas esfarrapadas, mentiam dizendo que estava tudo bem e que tudo seria esclarecido. Aí está o resultado!

Além da rainha a Comunidade era dirigida por mais três integrantes que dividiam, entre si, as tarefas administrativas com a ajuda de uma assistente. O pagamento aos fornecedores deveria ser feito por meio de cheques e nestes deveria constar duas assinaturas para melhor controle, a da rainha e a do secretário do tesouro. Porém, isso não foi o bastante para impedir que metessem a mão no dinheiro. Houve quem admitisse o erro, quem tirasse o corpo fora, quem colocasse a culpa um nos outros, mas tudo ficou impune. Praticamente sem maiores conseqüências para a rainha e seus colaboradores, apesar de algumas reuniões dos membros da comunidade para discutir o assunto e de uma inevitável intervenção.

 – E agora? – perguntaram.

– Agora temos que aprender a lição. A rainha tem que ser destituída e processada, assim como os demais membros da cúpula e alguém, que zele pela nossa comunidade e que preste contas de seus atos, deve entrar em seu lugar. Vamos cobrar! Tudo será diferente!

Ninguém queria assumir o reinado diante de tantos problemas. Apenas um membro aceitou a indicação. Inclusive, dizia ele, que também cobrava da administração anterior a devida prestação de contas. E assim aconteceu. Um novo rei surgiu, mas os problemas não desapareceram. Depois de um longo período e graças à venda de terras pertencentes à comunidade as dívidas foram pagas. Os fornecedores se viram obrigados a receber o que lhes foi oferecido numa negociação em que os valores originais foram diminuídos. A prestação de contas não foi feita até então, mesmo depois de passados alguns anos. E a população, fazendo jus ao nome do reino, continua acomodada. Não reclama. Exceção àquela voz que, de maneira isolada e corajosa, ainda clama por transparência.

Lutar é preciso!

     "O certo é o certo, mesmo que ninguém o faça. O errado é o errado, mesmo que ninguém esteja vendo".      Eu acredito nisso! N...