terça-feira, 20 de outubro de 2009

Conto VI

Esperança!


– Mãe eu estou com sede!


– Tome, mas só um golinho! Estamos com pouca água – disse D. Ofélia.


Não era apenas a pequena Silvia que tinha sede. Assim como ela, algumas dezenas de retirantes percorriam as terras áridas do sertão nordestino em busca de dias melhores em suas vidas cheias de sofrimentos provocados pela seca.


– Ai que cansaço! Quando vamos dar uma paradinha? – perguntou Silvia.


– Não sei minha filha!


– E quem é que sabe minha mãe? 


– Calma querida! Agüenta mais um pouco. 


O Sol parecia mais forte, mais intenso. Todo mundo estava exausto e o José, líder daqueles miseráveis resolveu propor um descanso:


– Vamos dar uma parada minha gente!


– Ufa! – concordou a maioria.


Quase não se via sombra, as árvores que ainda resistiam há muito perderam suas folhas. Os mais velhos diziam que essa teria sido a pior seca de todos os tempos na região.


– Estamos com pouquíssima água. O que faremos José?


– Não sei Ofélia! – respondeu José cabisbaixo – Precisamos de um milagre. 


A cidade mais próxima ficava a dez quilômetros e além da sede, muitos reclamavam de bolhas nos pés. O cansaço era tanto que Silvia acabou dormindo.


– Silvia, acorde minha filha! Silvia! Silvia! Todos perceberam o desespero daquela mãe e ficaram a sua volta sem saber o que fazer.


– O que houve? – grita José. – Minha filha, ela não que acordar!


José pegou um pedaço de pano, molhou-o e passou nos lábios da pequena criatura de treze anos que, devido ao alto grau de desnutrição, parecia ter apenas nove. Ao sentir o pano úmido em sua boca a menina começou a despertar para alívio geral.


– O que houve com você Silvia? Não queria acordar? Fiquei desesperada. 


– Eu tava sonhando minha mãe: a gente tava numa casa linda, cheia de flores ao redor e uma plantação de feijão verdinha, verdinha! Tudo graças a um rio que corria bem perto dali. A senhora não acha que eu deveria ficar por lá mais um pouquinho?


D. Ofélia segurando o choro, mas com a esperança renovada pegou Silvia no colo e todos retornaram à difícil jornada.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Conto V

Um Beijo! 


Era noite e fazia frio na cidadezinha de Serra Velha no alto sertão pernambucano. Dois amigos conversavam numa das esquinas quando ouviram um grito. Sentiram uma mistura de medo e curiosidade. Queriam saber quem havia gritado e o porquê.


– De onde veio esse grito? – murmurou o Pablo.


– Sei lá. Vamos dar uma olhada por aí!


Pablo e João começaram a andar pela cidade, vazia e misteriosa, a procura de alguém que pudesse estar em apuros, quando avistaram uma mulher toda de branco correndo em direção ao cemitério.


– Você viu o que eu vi?


– Preferiria não ter visto – retruca João – O que a gente faz agora? 


- Vamos lá!


– Ta doido? Eu não entro em cemitério à noite nem amarrado. 


A discussão foi interrompida não mais por um grito, mas por um chamado. Uma voz feminina, irresistível, convidava os amigos a entrar no cemitério. Apesar do medo, ambos começaram a se dirigir ao mesmo destino que a moça de branco. 


– Essa voz... Quem teria uma voz tão doce? – comenta João.


Entraram e logo se depararam com a anfitriã inusitada. Não houve reação. Ficaram alguns minutos observando e admirando aquela mulher linda e sedutora.


– Venham! – sussurrou ela. 


Inconscientemente, quase que hipnotizados os garotos atenderam à sua solicitação. 


– Venham! Não temam! Sou Jéssica e preciso de vocês para resolver um problema.


– Que problema? – perguntou Pablo, gaguejando. 


– Apesar de minha beleza nunca fui beijada. Morri antes de conhecer alguém que eu amasse de verdade. Para descansar em paz necessito de um beijo, sempre foi meu sonho.


– Como assim, morreu? – questionaram ao mesmo tempo.


– É, morri! Mas ando vagando, esperando o momento de realizar o meu desejo. Por favor, quem de vocês pode me beijar? 


Os dois não sabiam o que fazer. Correr, talvez fosse a melhor opção. Inesperadamente o Pablo disse:


– Eu beijo!


– Pablo, ela ta morta!


Pablo não deu ouvidos para o que seu amigo falava. Pegou a Jéssica pela cintura e quando parecia que iria beijá-la...

 – Ô Pablo, acorda seu preguiçoso, ta na hora de ir pro colégio! – gritou a sua mãe, enfurecida.

Lutar é preciso!

     "O certo é o certo, mesmo que ninguém o faça. O errado é o errado, mesmo que ninguém esteja vendo".      Eu acredito nisso! N...