quinta-feira, 29 de julho de 2010

Conto XIII

Apenas, um dia!


Acordo! Faço minha higiene pessoal, tomo café e troco de roupa para ir trabalhar. Ao ligar o carro observo que o combustível está na reserva. Que chato! Terei que desembolsar alguns trocados com gasolina.


No caminho tenho que desviar de buracos na pista. O sinal vermelho de um semáforo faz com que eu pare. Nem todo mundo age da mesma maneira. Muitos invadem. Que povo mal educado!


— Filho da p... — esbravejou, revoltado, um motorista que fora fechado por um outro veículo.


Meu mundo fica verde e volto a seguir a minha jornada. É cedo e a cidade ainda não despertou por completo. Vejo moradores de rua dormindo em calçadas tendo como colchões pedaços de papelão. Vida ingrata! Enfim, chego ao trabalho. 


— Bom dia! — Bom dia seu Carlos! Como vai? — indaga-me o vigia da empresa.


— Muito bem, obrigado! 


Abro a sala do escritório e visualizo minha poltrona. Ela é grande, preta, bem acolchoada. Confortável. Porque será que reparei na minha poltrona? Hora de trabalhar. Ligo o computador. Ler minhas mensagens é a minha primeira tarefa do dia. Mas eu não disse que era hora de trabalhar? Nada disso. Inicialmente verifico os “e-mails” e leio os jornais. È assim todos os dias. 


Depois de muita correria, discussões, erros e acertos, é hora do almoço. Nem sempre consigo ir almoçar em casa. Hoje é um desses dias. Comerei uma pizza na pastelaria da esquina. Se não fosse pelo trabalho tomaria uma taça de vinho. Peço uma pizza pequena de mussarela, minha preferida. A garçonete me diz que talvez demore um pouco, pois há muitos pedidos. Disse isso com um belo sorriso. Fiquei encantado por ela. Nunca a tinha visto trabalhando ali. Tinha um belo corpo, cabelos compridos. Loiros.


— Já estou trazendo sua pizza! Não quer beber nada? — perguntou-me a linda garçonete. 


Fiz um gesto com a cabeça demonstrando que não iria beber nada e agradeci. Os minutos se passavam e nada de pizza. Comecei a ficar incomodado. Irritado. Nem aquele sorriso que tanto admirei fez com que eu me acalmasse. Detesto esperar. Enfim, quinze minutos depois chega a minha vez. Ela chegou. Refiro-me à pizza. Tinha apenas trinta minutos para devorá-la.


— Queimada! — gritei, após experimentar o primeiro pedaço — a minha pizza está queimada! 


— Desculpe-me senhor eu trarei outra. — disse-me a garçonete, constrangida. 


— Pra esperar mais quanto tempo? Esquece! Perdi o apetite. 


Saí da pastelaria com fome e indignado.


— Como foi o almoço? — perguntou-me o vigia da empresa


Fiz uma cara feia e nada respondi. Fiquei emburrado o resto do dia. Qualquer coisa me tirava do sério. Seis horas da tarde. Liberdade! Volto pra casa. Era dia de academia, mas só penso em compensar minha dieta forçada do almoço preparando uma bela macarronada e tomando todo o vinho que tiver vontade. Ouço um barulho. O carro insiste em ir para o lado direito. Estaciono e vou verificar o que aconteceu. Pneu furado. Imaginei o que mais de ruim poderia acontecer. 


— Onde está o estepe? — gritei desesperado - Roubaram meu pneu! 


Cai na gargalhada. Tive uma crise de riso que parecia não ter fim. Eu ria da minha própria desgraça. Depois de resolvido o problema, chego a minha casa, exausto. Deixo a ideia de macarronada de lado e me contento com um pedaço de bolo e um copo de suco que estava na geladeira. Procuro um filme na televisão. Pego no sono.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Conto XII

Fio de Esperança

– “O Sertanejo é antes de tudo um forte!”. Quem foi que disse isso mermo?

– Eu sei lá quem disse isso homi, ta variando?

– Eu tô falando sério! Um poeta disse isso, só não lembro o nome do danado.

– E porque ele disse isso, José?

– Sei lá, ele deve de ter procurado passarinho pra caçar e pra não voltar de mãos vazias apareceu com um calango do mato ou pode ter visto a criação morrer de fome e de sede no quintal de casa. De repente ele já chorou depois de ouvir os filhos pedindo por comida, quem sabe? O que eu sei é que a gente nasce, vive e morre lutando. Lutando por um cadim de comida, uma cama macia, um cobertor pra fugir do frio, um teto pra proteger nóis da chuva e do sol.

– É isso mermo! – concordou Maria.

José, Maria e seus dois filhos estavam alojados na quadra de esportes de um colégio, pois sua casa havia sido destruída pelas águas do açude que, depois de ter quebrado a represa devido às fortes chuvas, invadiram o pequeno povoado onde dezenas de famílias foram atingidas. A situação era crítica e os desabrigados tinham que contar com a solidariedade de outras pessoas.

– Aposto que esse poeta num sabe o que é perder sua casa e sua plantação! – resmungou Maria.

– Maria, eu acho que ele quis dizer é que pra tudo tem um jeito, e se não tem, o sertanejo arruma. Quantas vezes a gente passou fome? Lembra daquela vez que a gente deu farinha com açúcar pras crianças por três dias seguidos? A gente continua vivo, num continua?

– Eu num entendo José, a gente passa um aperto daqueles pra plantar arguma coisa e a chuva num vem, até rezar nóis reza e nada. Agora, vem esse mundo de água e derruba nossa casa e estraga nossa plantação. Isso é justo?

– As coisa de Deus nós num discute mulé, pode até lamentar, mas num discute!

– Pai, mãe eu tô com fome! – disse o filho mais novo ao acordar

José e Maria se olharam, procuraram a sua volta e nada tinham a oferecer à criança.

– Dorme meu filho, dorme! – disse José, desconsolado.

Lutar é preciso!

     "O certo é o certo, mesmo que ninguém o faça. O errado é o errado, mesmo que ninguém esteja vendo".      Eu acredito nisso! N...