terça-feira, 20 de abril de 2010

Conto X

Em cada canto um encanto!

Há seis anos resolvi fazer uma viagem sem destino certo. Parei numa cidadezinha próxima a Salvador devido a um problema mecânico no carro em que eu estava e tive uma grande surpresa. A cidade a que me refiro era, realmente, muito pequena. Tinha uma pracinha bem arborizada, casas modestas e uma singela igreja branca com portas azuis. O defeito no veículo não era tão simples e o conserto demoraria pelo menos ate o dia seguinte, por isso fui a um barzinho beber alguma coisa e relaxar um pouco.

– Uma cerveja, por favor!

– Qualquer uma? – perguntou o dono do bar

– Uma que esteja bem gelada, de preferência. – respondi.

Sentei-me numa das cadeiras do lado de fora do bar e comecei a beliscar uns salgadinhos quando vi uma morena linda passeando pela praça. Parecia uma deusa! Tinha os cabelos enrolados, corpo escultural, magro, mas com curvas sinuosas. Nesse momento eu não via e nem ouvia mais nada. Minha atenção era toda daquela formosura que era uma mistura de mulher e menina. Ao passar por mim ela me olhou. Aproveitei e fiz sinal com o copo, rendendo-lhe homenagem e, ao mesmo tempo, convidando-lhe a sentar à minha mesa. Ela sorriu! Andou mais alguns passos, parou e voltou em minha direção.

– Você me conhece?

– Não, mas adoraria conhecê-la – respondi – não quer sentar e conversar um pouco?

– Tudo bem, mas não vá pensando besteiras.

Ela sentou e começamos a conversar. Havia nascido nesta mesma cidade e pouco saia de lá. Morava com seus pais e tinha o sonho de fazer um curso de enfermagem, mas para isso teria que se deslocar para uma cidade maior, algo que ainda não era possível. Fui mais ousado e perguntei se tinha namorado.

– Vou embora, você já ta com segundas intenções

– Calma! Foi só uma pergunta e se não quiser responder, tudo bem.

– Ta, mais olha lá, viu? – ela retrucou, com cara de brava – eu tenho “ficante”

Fiz-me de bobo e perguntei:

– O que é um “ficante”?

– É um quase namorado – Disse-me com um lindo sorriso.

Ela, parecendo confiar mais em mim, começou a falar de sua vida sofrida, apesar de sua pouca idade. Contou-me de seus conflitos com sua mãe.

– Eu odeio ela! Ela me maltrata.

– Mas por quê? – perguntei

– Sei lá, ela nunca gostou de mim.

Percebendo sua tristeza tentei mudar de assunto, mas antes disso, sua mãe veio como uma doida e a puxou pelos cabelos, fazendo o maior escândalo. Fiquei sem saber o que fazer enquanto as duas sumiam por uma das vielas da cidade. Paguei a cerveja e saí à procura de um lugar para passar a noite, mas não tirava aquela menina da cabeça.

– Será que nunca mais a verei – pensei em voz alta.

Noutro dia, ao sair da pensão, dei de cara com ela, cabisbaixa.

– Não agüento mais, eu só quero ser feliz – disse-me ao me abraçar – me deixa ir com você! Me leva!

Fiquei um pouco perturbado com o seu abraço e com o que ela me pediu. Tentei lhe explicar que esse não era o melhor caminho, que deveria estudar fazer o seu curso e tentar, de alguma maneira, se entender com sua mãe. Infelizmente ela não meu deu ouvidos e saiu, aos prantos, dizendo:

– Eu não posso contar com ninguém mesmo!

Voltei pra minha cidade. Nunca mais a tinha visto até que no mês passado fui convidado para uma cerimônia de formatura de uma amiga. Aceitei ao convite, apesar de achar uma chatice. Nem sabia qual era o curso dos formandos e para minha grata surpresa eis que vejo aquela morena linda recebendo das mãos de sua mãe o diploma de formatura do Curso de Enfermagem. Ela admirou-se a me ver, mas se aproximou e disse com um sorriso largo:

– Pensei bem no que você me disse da ultima vez em que nos falamos e resolvi seguir seu conselho, obrigado!

Abraçou-me e se foi.

Lutar é preciso!

     "O certo é o certo, mesmo que ninguém o faça. O errado é o errado, mesmo que ninguém esteja vendo".      Eu acredito nisso! N...