quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Conto I

Dá linha!

– Dá linha, dá linha! Isso Tião, dá mais linha! - gritavam os moleques da rua.

As arraias e pipas coloriam o céu. Era um festival de beleza e habilidade. Linhas temperadas, moleques rindo à toa com a brincadeira preferida da região. O mais forte cortava a linha do outro. Uma verdadeira competição onde a regra era não ter regra. Ganhava aquele que continuasse com a pipa no ar no final do dia. Sebastião era bom no que fazia, todos tinham inveja da sua categoria com uma pipa. Sua mãe, no entanto, não sabia mais o que fazer para convencê-lo a ir à escola.

– Ô Tião! Larga disso menino, ta na hora de ir estudar!

– Já vai minha mãe, tô indo!

Sebastião parecia enfeitiçado. Nada o fazia sair dali. Nem por decreto. Ele tinha que ser o vitorioso. Sentia-se importante empinando uma pipa. Era o rei do pedaço. A escola para ele era só um passatempo e estava em segundo plano. Mas um dia o professor de português pediu para que a turma escrevesse uma redação sobre a vida de cada um de seus alunos. Todos falariam sobre si. O que mais gostavam de fazer. E Tião, como era apelidado pela família e amigos, não perdeu tempo. Assim que chegou a sua casa começou a escrever.

– Ta fazendo o que Tião? - perguntou a mãe.

– O dever de casa minha mãe. Tô passando pro papel o meu prazer de empinar pipa. O professor pediu.

– Ele pediu isso?

– Ele pediu pra escrever sobre o que a gente gosta mais de fazer. Como eu gosto de empinar pipa...

– Ta bom, menino! Ta bom! – esbravejou sua mãe.

“Ainda bem que largou aquela pipa, mesmo que seja pra falar dela no papel”. – Pensou a mãe.

Sebastião passou o dia escrevendo sua redação. Nem se lembrou de sua pipa, encostada num canto do quarto. Afinal, a redação era para ser entregue no dia seguinte.

– Tchau mãe!

Sebastião despede-se de sua mãe. Era dia da apresentação. Todo orgulhoso, ele foi imaginando como seria a aula.

Pronto! Havia chegado a sua vez! Temperou a garganta e começou a ler. Contou como se sentia feliz ao ver uma pipa no céu. Dizia parecer sonhar. Colocava-se no lugar do objeto de papel e talas de madeira, como se fosse um piloto de avião, planando pelo ar. Sua leitura dura cerca de dez minutos, mas emociona ao professor e a todos os seus colegas da turma, sendo aplaudido de pé. E então, Tião descobre que possui mais um talento.

Um comentário:

  1. É isso ae Tião!!!!! Botou pocando, descobriu e provou que tem outros talentos. É assim na vida, um talendo, por mais irrelevante que seja, atrai outro talento. Parabéns Gilvan!!! Belo Conto. Gostei.

    Juliano Oliveira

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