quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Conto III

Mãe Coruja!

– Antes mesmo de entrar na mata já ouvíamos os pássaros cantando. Era canto de todo tipo, para todos os gostos. Ficávamos horas e horas ouvindo aquela sinfonia.- dizia o velho Manuel para o seu neto. – Hoje isso não existe mais e parte disso é culpa minha!

– Porque vovô?

– Lá em casa a comida era pouca e um pedacinho de carne a mais era de grande valia.

Manuel continuava a falar sobre o tempo em que era jovem e os motivos que o levaram a sacrificar as aves que ali, também viviam. O garoto, atento a tudo que o ancião contava, queria saber mais:

– E aí vovô, conta mais...

– Está bem, eu vou te contar!

– Eu tinha mais ou menos a sua idade quando matei meu primeiro passarinho. Na hora senti pena. Mas fui convencido pelos amigos que aquele bichinho aliviaria a nossa fome. Depois desse dia não tive mais remorsos. Saia com meu “badogue” e voltava com a sacola cheia.

– Coitadinhos! – retrucou o neto – Quantos o senhor matou vovô?

 – Eu perdi as contas. Foram muitos. Não conseguiria lembrar, pois foi assim por muito tempo. Só não fui capaz de esquecer o dia em que deixei de matá-los.

– E quando foi isso?

– Havia dez anos desde a primeira ave abatida e a quantidade naquela região já não era mais a mesma. Mesmo assim eu continuava a caçá-las. Num belo dia, acordei cedo e saí pela mata. Após um longo período de caminhada ouvi um barulho. Parecia coisa grande.

– Vai vovô, fala! O que era?

– Era uma coruja, meu neto. Pousou bem perto de mim. Ela era linda! Imponente!

– E o senhor, “matou ela”? Pergunta o menino com uma voz de tristeza.

– Eu peguei minha espingarda – o badogue já havia aposentado – e mirei. Ela não se mexeu. Seus olhos fixaram-se aos meus como se pedissem clemência. Ficamos ambos, imóveis. O tempo passava e nem eu, nem ela, esboçávamos qualquer reação. Tomei a decisão fatal e atirei.

Com uma lágrima escorrendo sobre sua face o garoto perguntou:

– E ela morreu?

– Morreu sim. E para minha surpresa, quando eu fui pegá-la, vi o motivo pelo qual ela não se mexera antes que eu atirasse. No galho da árvore onde ela estava existia um ninho com três corujinhas suplicando por comida. Desde esse dia nunca mais cacei.

Um comentário:

Lutar é preciso!

     "O certo é o certo, mesmo que ninguém o faça. O errado é o errado, mesmo que ninguém esteja vendo".      Eu acredito nisso! N...